segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O RIO É UM PARAÍSO GAY POR ROBERTA SALOMONE

Sol, praia, ambiente liberal e bons preços, além da beleza nativa, fazem o turismo
gayinternacional explodir no verão carioca.
A garota de Ipanema já era. Nas areias da praia que serviu de passarela para a musa de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, agora quem ocupa espaço – e também desfila o corpinho – são os turistas gays. Vindos de várias partes do mundo, eles tomaram conta de um quarteirão inteiro da mais badalada praia do Rio de Janeiro e estão transformando a cidade numa espécie de São Francisco da América do Sul. Até o ano passado, eles se concentravam numa faixa de areia bem mais estreita em Ipanema, num bar na Praia de Copacabana, sugestivamente batizado de Rainbow (o arco-íris é o símbolo dos homossexuais), e, para cair na balada, na boate Le Boy, o marco zero da noite gay carioca. Neste verão, na praia e em dezenas de bares e boates da Zona Sul carioca, incorporaram-se à paisagem grupos de homens em geral bem-apessoados, bronzeados e musculosos, muitos formando duplas românticas. "Estar aqui é um sonho. As pessoas são alegres e os homens têm o corpo mais bonito que já vi", garante, entre dois goles de caipirinha na praia, o relações-públicas americano David Pollick, 41 anos, que pretende ficar na cidade até o Carnaval. Os atributos físicos dos brasileiros – somados a vantagens universais, como os preços baratíssimos para quem tem moeda forte e o sol de verão, em contraposição ao inverno no Hemisfério Norte – são um dos agentes propagadores da fama do Rio no circuito gay mundo afora.
Não há estatísticas oficiais sobre esse público. Mas, além do que se observa facilmente nas ruas, algumas evidências confirmam um fenômeno que só deve crescer até o Carnaval. Especializada nesse tipo de turista, a agência Álibi, de São Paulo, aumentou em 30% o número de estrangeiros que mandou para o Rio no último réveillon. Em alguns dos principais hotéis de Ipanema, o público homossexual chegou a impressionantes 80% dos hóspedes na virada do ano. Os principais sites gays internacionais destacam a cidade como um lugar acolhedor e livre de preconceitos. "Não perca nem mais um dia no frio. O dólar está forte e os meninos, quentes", resume o site americano Gay Travel. Na internet, o turista também encontra o Rio Gay Guide, criado por um carioca e indicado por guias do mundo todo. Ali, há dicas do que fazer em todos os dias da semana e um mapa detalhado dos lugares mais badalados. Nem precisava. Na Zona Sul, boates, bares e lugares nas praias foram identificados com bandeiras multicoloridas. O publicitário francês Frederick Russet, de 33 anos, chegou com três amigos e um roteiro extenso. A programação começa no fim da manhã, na Praia de Ipanema, e termina numa das muitas boates da cidade. "Não paramos um segundo", conta Frederick. "Estava contando os dias para chegar. Todos os meus amigos já tinham vindo para cá", emenda Cassius Armitage, consultor financeiro australiano de 32 anos.
Com um mercado comprovadamente rentável em expansão – há pesquisas que atribuem ao turista homossexual um consumo 40% superior ao dos demais –, empresários do setor se animam. Para atender os visitantes, funcionários de hotéis já começaram a receber orientações especiais. Comentários maliciosos ou risadinhas são terminantemente proibidos. A rede de Hotéis Othon, credenciada pela International Gay and Lesbian Travel Association, contratou um treinamento específico para lidar com esse público. "Se dois rapazes pedirem uma cama de casal, serão atendidos sem nenhum constrangimento", informa Carlos Nascimento, gerente nacional de vendas da rede. A intenção é desenvolver um turismo GLS nos padrões do americano.
Segundo a International Gay and Lesbian Travel Association, o segmento específico faturou 54 bilhões de dólares em 2002 – 10% do bolo total da indústria de turismo dos EUA. Dono da boate Le Boy, em Copacabana, o francês Gilles Lascar aumentou seus negócios em velocidade relâmpago. O empresário orgulha-se de ter sido anfitrião do inglês Peter Mandelson, ex-ministro da Indústria e Comércio do governo de Tony Blair, que virou fofoca mundial depois de uma noite na Le Boy, em 1998. No ano seguinte, Lascar fez uma grande reforma na boate e em 2002 inaugurou a La Girl – versão só para meninas – e o Boy Bar. Depois, vieram uma academia, uma sauna e uma loja de roupas. "O Rio é um paraíso gay", diz.
Fonte: http://veja.abril.com.br