sexta-feira, 25 de abril de 2008

BICHA BURRA NASCE HOMEM? POR MOA SIPRIANO

As palavras a seguir são um grito de revolta. Muitas vezes acredito que tem gente no mundo que realmente merece se fod... para aprender a se dar o devido valor. Acompanhe o relato sobre o comportamento de duas bichas – sim, B-I-C-H-A-S – que têm o dom supremo de se entregar à dor e ao sofrimento totalmente desnecessário.
Conheci Andrety Bichety no Orkut. Aliás, foi ela quem me achou nas fuçadas da vida, me enviando em seguida um scrap, dizendo ter ficado apaixonadamente apaixonada pela fartura de pêlos negros e prateados que carrego no meu corpo forte, porém fofinho.
On line, educadamente agradeci os elogios, avaliei o perfil e aceitei o dito-cujo no meu rol de amigos virtuais. Minutos depois, a princesa encantada pediu-me permissão para papear no MSN. Permissão concedida, lá veio o Bambi pululando em minha tela (sim, a foto era de um bambi beeemm bambi).
“Oi Moa, fiquei encantado por você”, ela escreveu.
“Que bom que você gostou de mim, mas espero que tenha lido totalmente meu perfil e que não se prenda somente à minha imagem”, respondi, educadamente.
“Não perco tempo lendo perfis. Aliás, vi que você é escritor, mas eu não gosto de ler. Gosto só das fotos de homens gostosos como você”, li, atônito, a resposta que eu já imaginava encontrar.
“Eu te amo, Moa Sipriano. Quero que você venha morar comigo”, surgiu a frase, claro que em letrinhas piscantes, emporcalhando minha tela imaculada.
“Desculpe-me, Andrety Bichety, mas estamos trocando palavras há exatos 30 segundos e você já está me amando? Não acha um pouco precipitada demais essa tua atitude?”
“Não, Ursão”, (odeio ser chamado de 'ursão') “você é o homem da minha vida. Eu quero você pro resto dos meus dias. Eu quero que você venha morar comigo. Agora! Venha no próximo avião...”
Não adiantou eu argumentar para a bicha - que estava realmente falando sério - que aquela era uma proposta absurda e totalmente egoísta. Que seria irracional eu ter que abandonar a minha vida, as minhas coisas, as minhas conquistas, o meu "Danger", o meu bem-estar para viver a três mil quilômetros de distância do meu mundo, só pra contentar uma bicha que nem sequer sabia quem eu era e, sim, que estava interessada apenas no meu corpo, na minha “masculinidade”, no meu caralho!
E agora vem o pior: a retardada ainda me passou de cara o número do telefone fixo, depois o celular e pra culminar, o endereço da casa, do trabalho, da tia, da mãe e até da localização da casinha do cachorro “púdô” (por que toda bicha burra tem cachorro poodle branquinho?)
Além dos dados pessoais que eu não solicitei, a lesada escrevia freneticamente que estava disposta a me sustentar (!!), a me amar, a ser minha “bicha” para todo sempre. Pode uma coisa dessas?
Antes de bloquear e eliminar esse ser alienígena da minha existência, motivado pela minha eterna mania de ajudar quem não merece, ainda perdi meu tempo explicando para ela que esse tipo de comportamento é tremendamente arriscado; que ao passar todas as informações pessoais para uma pessoa totalmente estranha, ela corria o risco de ser assaltada, seqüestrada ou até mesmo morta... tudo por causa do maldito fogo no rabo!
Aaahh, claro, eu estava esquecendo: ela também escreveu até mesmo onde trabalhava e o quanto ganhava por mês – para que eu soubesse que a sua renda seria o suficiente para me proporcionar uma boa vida!!!
Sem chance de diálogo – já que a fogosa tomara conta da conversa – além de teclar feito uma desesperada, ainda despejava na telinha do MSN trocentas mil fotos da vaca magrela nua, de frente, de costas, de quatro, de lado e de todos os ângulos possíveis que sua imaginação conseguir conceber. Que nojo! Como a bicha burra não gostava de ler, nem perdi tempo em indicar
alguns artigos que eu havia escrito tratando justamente desse tipo de comportamento irresponsável. Bloqueei a infeliz do meu MSN e eliminei a anta do meu Orkut. Simples assim.
Mas (e sempre tem um “mas”), a noite estava longe de acabar com serenidade.
Paulety Bichety já estava registrada no meu MSN há tempos, mas, talvez por causa dos horários ou da agenda repleta de compromissos de cada um, nunca havíamos nos encontrado para um bate-papo. E então ela apareceu. Linda, gostosa, suadinha debaixo de uma camiseta vermelha, onde luzes néon guarneciam o seu corpo malhado, perfeito, másculo (só o corpo, claro... porque ao abrir a boca... ai meu d-e-u-s!).
O começo do papo foi agradável, interessante até. Mas, de repente - agora por telefone - lá vem a bicha burra não só me cantar, mas também me propor “casamento” pro dia seguinte!
Isso porque eu já havia dito a ela que meu objetivo no Orkut era fazer amigos e que para mim o Amor só pinta depois de uma sincera Amizade.
Respirei fundo, fiz uma breve conexão direta com meu Dalai, mas como o tadinho tava atordoado com os problemas no Tibet, fiquei sem reservas espirituais para a minha Santa Paciência.
Questionei a mim mesmo se eu era realmente “tudo isso” que as bichas gostam ou se eu estava participando de alguma conspiração viadesca celestial promovida por um bando de anjos arruaceiros. Fiquei com a segunda opção.
A bicha burra queria pegar o carro, viajar mais de 800 km noite adentro, só pra ter o prazer da minha companhia, ou melhor, para chupar meu pau e lamber meus pêlos sedosos.
E não contente com uma meia-foda, a linda queria me levar pra morar com ela, junto com mamãe e, claro, o cachorrinho “púdô” (sim, ele seria um brinquedinho e tanto pro meu pitbull que não suporta, como o “pai” dele, bicho ou bicha cheios de frescura).
Mais uma vez, não importava quem eu era, se meu perfil era verdadeiro, se eu existia realmente, se minhas palavras e imagens eram da pessoa que eu dizia ser... até mesmo se eu “era eu mesmo” no celular. Ela estava disposta a vir e pronto!
Moral das histórias reais descritas acima: tem gente que não pensa, não raciocina, não tem um pingo de bom senso. Primeiro, bom senso em se respeitar o próximo, avaliando em conjunto as possibilidades de um encontro, de uma amizade e, claro, até mesmo de algo mais íntimo.
E mesmo que eu fosse ao encontro delas... porra, e se não pintasse tesão, atração, vontade de ficar juntos? E se fosse o contrário... se eu é que ficasse “apaixonadamente apaixonado” por um ser desses e pedisse à princesa que viesse morar comigo, viver comigo, que abandonasse seus familiares, seus amigos, seu trabalho, sua vida, tudo por causa da potência do meu cacete ou da maciez do meu rabo peludo? Será que elas viriam? Seriam submissas a esse ponto?
Andrety e Paulety não estavam nem aí para o que eu sentia, o que eu queria, o que eu desejava encontrar no outro lado. Motivadas apenas pelas minhas “fotos sensuais” (ai, ai, ai, eu não sou um urso fofo? Confessa!), sem ao menos ler o conteúdo do meu perfil numa rede de relacionamentos, sem nem sequer conferir meus dados, elas se entregavam assim, de mão beijada, onde certamente eu poderia “fazer a festa” usurpando seus bens materiais e suas mentes embotadas.
Ser ou estar carente, vá lá, é algo que nos acontece muitas e muitas vezes durante a vida. Mas se iludir de bobeira, implorando amor, sexo, carinho e compreensão do primeiro peludo que aparece na sua tela triste... acho um pouco demais pro meu gosto.
Eu acredito na atração virtual que gera um encontro real. Eu mesmo já vivi essa experiência e foi algo muito bom para os dois lados, no que se refere à intimidade.
Já encontrei e fiz amigos fantásticos através da Grande Rede. Encontrei trabalho, profissionais competentes, oportunidades mágicas que só seriam possíveis graças à Internet.
Quanto ao amor na primeira tacada... sim... existe! Mas, porra, mesmo nesses casos raríssimos um bom papo, uma conversa franca, uma química mais do que perfeita é necessária, senão tudo desanda e o que sobra é a frustração, a mágoa, a depressão, o medo de continuar a tentar.
O que eu mais fiquei puto nessa porra de experiência com Andrety e Paulety é que elas estavam simplesmente cegas para tudo. Não se importavam em se entregar, em se aventurar em algo que poderia acabar até mesmo com suas vidas!
E se eu fosse um marginal, dono de um perfil falso, pronto para se aproveitar dessas situações? (quantos gays, meu deus, quantos gays já caíram nesse tipo de golpe?). E se eu tivesse um comparsa e juntos fôssemos atacar essas bichas infelizes?
Aí eu te pergunto: Até quando nos esconderemos atrás das nossas “ingenuidades” e nos entregaremos aos homens errados?
Daí por azar uma lazarenta dessa amanhece morta, esfaqueada, estrangulada, estuprada (morreu realizada, a infeliz!), aparecem aos borbotões aquele monte de gays hipócritas, donos de ONGs de proteção às minorias, pedindo a cabeça dos assassinos e justiça para as autoridades em seus discursos inflamados, porém repletos de palavras vazias, sem atitude.
Cabe a nós, gays ou não, nos policiarmos no que diz respeito à nossa intimidade, nossos desejos, nossas atitudes. Enquanto permanecermos cegos e nos comportarmos como bichas burras agindo de forma totalmente irresponsável, o resultado será um emaranhado de casos infelizes infestando as páginas policias dos jornais sensacionalistas.
Só você pode cuidar de você mesmo.
As palavras descritas aqui foram um grito de revolta. Eu continuo acreditando que tem bicha burra no mundo que realmente merece – literalmente – se foder...

para aprender a se dar o devido valor.

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