sábado, 22 de setembro de 2007

A RELIGIÃO QUE ENTENDE

Com certeza não lhe faltou à oportunidade de ouvir expressões como: “A mona aqüêndou o ocó” ou então, “O ilê da mona é uó”. No universo gay esse tipo de frases cifradas é cada vez mais freqüente e sua origem é muito curiosa: são oriundas do Candomblé. A grande freqüência de todos os tipos de homossexuais (brancos e negros) nos terreiros afro-brasileiros tem uma ligação muito significativa no uso desses termos que na verdade é a língua nagô ou iorubá. A visita a um terreiro de Candomblé faz com que os gays sintam-se mais livres. Pois, para essa corrente religiosa o que vale é a integridade, o caráter e o respeito ao ser humano, não importando o sexo ou opção sexual de quem procura. Sob esse aspecto, até as próprias divindades se apresentam com características bissexuais ou até assexuadas, é o caso de Logun-edé, diz à lenda que durante seis meses do ano ele é homem, nos outros seis meses ele é mulher, também tem a Oxumaré outra divindade cultuada no Candomblé que carrega forte ambigüidade sexual por ser macho e fêmea simultaneamente. Já a divindade Ossanhe é mais “polêmica” por ser assexuada, alguns terreiros cultuam como homem e outros como mulher. Mas os gays têm preferência pela Pomba-gira, pois, acredita-se que a mesma pode facilitar as coisas difíceis no que se refere á parte sentimental e sexual. Os orixás também atraem os gays pela forma que se manifestam; alegres, exuberantes e enfeitados, tudo isso associado à falta de preconceito, abrindo manifestações ligadas à homossexualidade. Mas, como pensam alguns desavisados, nem só de frescura vive a seita. Como todo o ser humano precisa de uma religião, no Candomblé, pode-se dizer que já é um passo para conseguir conforto para o espírito. Não há um só discurso, nem escritos específicos sobre a homossexualidade no Candomblé, uma vez que a maioria dos pais-de-santo no passado e no presente são bissexuais e homossexuais tanto quanto os filhos-de santo. A explicação para o uso desses termos pela cultura gay brasileira só tem a ver mesmo é com a freqüência de muitos homossexuais nos terreiros afro-brasileiros. Como outros “dialetos” grupais, é uma linguagem cifrada que evita que pessoas de fora entendam conversas mais íntimas dos próprios homossexuais.

PARA VOCÊ QUE NÃO ENTENDE MUITO, SEGUE ALGUNS EXEMPLOS
Para você que não entende muito, segue alguns exemplos:
Aqüêndar - conseguir / Aqüé - dinheiro / Mona - mulher / Edi - bunda
Ocó - homem / Uó - coisa ruim / Ojó - olho / Urupim - peruca
Picumã - cabelo / Ocany - pênis / Apatá - sapato / Axó - roupa / Caicó - cigarro
Otim - bebida / Jiger - comida / Afofí - mal cheiro / Elza - roubo / Alibam - polícia
Ilê - casa / Adé - gay / Aló - lésbica

O AMOR QUE NÃO OUSA DIZER O NOME
Dentro da mitologia dos orixás, há passagens que confirmam a presença de hermafroditas ou transexuais. Esse é o caso da mulher-macho que veste calça e tem cavanhaque: a orixá das tempestades, Iansã.
Segundo alguns mitos yorubás, Oxalá reúne em si o lado masculino e feminino, aliás, como muitos outros deuses antigos.
Consta também que Oxóssi, o caçador, manteve relação amorosa e sexual com o orixá das folhas, Ossaim ou Ossanha.
Apesar disso, alguns homossexuais do candomblé não se assumem. "A maior parte dos principais pais de santo no passado e presente foram e são bissexuais ou homossexuais. Filhos de santo, a mesma coisa. Todo mundo sabe, mas não se fala, não se assume. Tolera-se, mas não há um discurso articulado de defesa da livre orientação sexual dos indivíduos, o que é uma pena, pois apesar de muito praticado, o homossexualismo continua sendo, no candomblé, o amor que não ousa dizer o nome". Oseás Santana, 32 anos, filho de santo, diz que na religião do candomblé, não há pecado e nem pecador e muito menos o inferno, sendo o indivíduo responsável pelos seus atos e o único que pode avaliá-los. "Aqui se respeita a liberdade, o ser humano, não importa sua orientação sexual".










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